A Galiza aqui tão perto

01 Farmácia Avenida
A nossa primeira paragem foi na Farmácia Avenida, porque o Alejandro, ainda inebriado por saber que será pai dentro de meia-dúzia de meses, quis comprar-me um conjunto para bebé composto por biberão, chupeta e sei lá que mais, bem como uma cinta para grávidas. Bem tentei resistir, dizendo-lhe que ainda era cedo, que poderíamos fazer as compras necessárias em Vigo, mas de nada adiantou. Resignada, procurei fazer-lhe a vontade, mas a verdade é que não me arrependi da compra porque na farmácia foram muito atenciosos e competentes, e até se disponibilizaram, no âmbito da plataforma Barcelos Plaza, a enviarem-me pelo correio tudo o que comprei.

02 Igreja de Santo António
Visitámos a Igreja de Santo António, também conhecida por Igreja dos Capuchinhos, uma vez que é ordem religiosa dos Franciscanos Capuchinhos que a administra desde a década de 1930. O templo foi construído com o aproveitamento dos materiais resultantes da demolição da Igreja dos Terceiros, que se localizava no Campo da República, também apelidado de Campo de Feira em virtude de se realizar nesse espaço uma feira semanal desde o princípio do século XV, como pudemos saber acedendo ao website do Barcelos Plaza. Como curiosidade, refira-se que os Capuchinhos se instalaram neste lugar em 1934, altura em que vieram de Espanha para Barcelos.

03 Sofica e Cunha Sapatarias
Mais adiante, ainda na mesma avenida, decidi comprar uns sapatos confortáveis, pois sabia que, provavelmente iria caminhar alguns quilómetros e, pelo sim pelo não, mais valia estar prevenida. Assim, entrámos na Sofia e Cunha Sapatarias, onde experimentei calçado desportivo e casual sem que tivesse conseguido decidir sobre o par que mais me convinha, tal era a oferta disponível na loja em quantidade e qualidade. Ao fim de algum tempo, aconselhada pela funcionária que me atendeu, comprei um par de sapatos pretos com sola de borracha que me pareceram ideais para a caminhada que teria pela frente.

04 Four Brothers
Ao fim da Avenida Alcaides de Faria atravessámos o Largo dos Capuchinhos para entramos na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, que percorremos de um extremo ao outro. Junto ao Campo 5 de Outubro seguimos em frente, pela Rua Cândido dos Reis, onde fizemos três paragens. A primeira sucedeu na Four Brothers, um nome que fez o Alejandro recordar o filme americano homónimo, cuja banda sonora é assegurada pelos Temptations, uma banda dos tempos dos nossos pais que ele se habituou a ouvir em menino e ainda hoje aprecia. A Four Brothers de Barcelos é uma loja moderna, provida de um espaço amplo e sedutor. Comprei um par de jeans pelo qual me apaixonei, tanto pelo corte das calças, junto ao corpo quanto-baste, como pelos matizes desbotados de azul.

05 Amora
A segunda paragem durante o curto mas demorado percurso pela Rua Cândido Reis aconteceu na Amora, uma loja dedicada ao comércio de vestuário infantil e juvenil. Uma vez mais cheio de entusiasmo com a promessa de ser pai pela primeira vez, o Alejandro insistiu para comprarmos um conjunto para bebé que estava exposto na montra e lhe chamara a atenção. Tratava-se de um conjunto de três peças em jersey macio de algodão orgânico, composto por umas calças, um body e um gorro com as orelhas do Rato Mickey. Não satisfeito com o que acabáramos de comprar, decidiu-se também por um body que tinha bordada no peito a frase “Born In 2017”. Saímos da loja a sorrir, satisfeitos com a compra, felizes com a ideia de que iríamos ter um filho em breve.

06 Irmãos Silva e Fonseca
Ainda na Rua Cândido Reis, entrámos na loja Irmãos Silva e Fonseca, atraídos por um conjunto de pinturas que se encontrava exposto numa das paredes. Informaram-nos que as telas, todas em acrílico, pertenciam a um ilustre pintor barcelense que era cliente da casa havia muito tempo e que as mandava emoldurar na loja. No caso daquelas obras de arte, disseram-nos que haviam sido selecionadas pelo artista para integrarem uma exposição de artes plásticas num espaço nobre do município. Na Irmãos Silva e Fonseca pudemos ainda apreciar vários artigos de arte religiosa que a casa comercializa, muitos deles de elevada qualidade estética.

07 Farquim
No Campo Camilo Castelo Branco está instalada uma loja de comércio de gás, lubrificantes e eletrodomésticos, isto é, produtos e serviços que nas circunstâncias em que estávamos jamais nos poderiam interessar. Mas na realidade sucedeu exatamente o contrário, porque o Alejandro, que parecia querer gastar o nosso dinheiro de uma vez só, interessou-se por uma torradeira que viu em exposição na montra. Disse-lhe, sinceramente, que me agradava o design do pequeno eletrodoméstico, por ser esteticamente agradável e por combinar de uma forma harmoniosa o metal e a madeira das peças que o compunham. Atento à minha opinião, o Alejandro decidiu comprar o pequeno eletrodoméstico, e eu percebi que não teria forma de o demover. Depois de termos entrado na loja e verificado o objeto do seu desejo, o Alejandro acedeu ao portal do Barcelos Plaza e fez a compra de imediato, como se estivesse em Espanha. Vivam as novas tecnologias, pensei.

08 Praça de Pontevedra
Atravessámos o Campo Camilo Castelo Branco, descemos ao Mercado Municipal e deparámos com a grata surpresa de termos ficado a saber que há em Barcelos uma praça com nome galego, a Praça de Pontevedra. A inscrição gravada numa placa metálica da praça, datada de 2 de maio de 1071, é reveladora da amizade existente entre os dois povos: “Homenagem à mui galega e irmã cidade de Pontevedra”.

09 Posto de Turismo
Na Praça de Pontevedra percebemos que nos estava a faltar informação sistematizada e útil sobre Barcelos, apesar das facilidades conferidas pelas novas tecnologias. Assim, fomos perguntando onde se localizava o Posto de Turismo e não tardámos a encontrá-lo por trás da Torre da Porta Nova e junto da Biblioteca Municipal. No Posto de Turismo pudemos apreciar a qualidade e diversidade do artesanato barcelense, do qual destaco o original e belíssimo figurado em cerâmica. Depois de termos sido instruídos pela funcionária que nos atendeu, decidimos subir à torre da Porta Nova, mas não sem antes termos feito uma visita à Biblioteca Municipal.

10 Biblioteca Municipal
A Biblioteca Municipal, tal como o Posto de Turismo, situa-se no Largo Dr. José Novais. Está instalada num belo edifício do século XVI, a Casa dos Machados da Maia. Fomos recebidos pelo bibliotecário que nos proporcionou uma visita guiada e nos falou de um sem-número de curiosidades históricas ligadas à biblioteca, à cidade e ao concelho de Barcelos. Eu estava, naturalmente, entusiasmada com as histórias que ele nos contou, algumas delas inscritas na tradição oral popular e nas lendas regionais. Depois dessa conversa amena e instrutiva, dirigimo-nos para a Torre da Porta Nova.

11 Torre da Porta Nova
A Torre da Porta Nova fez parte da muralha do século XV que protegia o burgo barcelense. Atualmente funciona como Centro de Interpretação do Galo e da Cidade de Barcelos, mas chegou a servir de estabelecimento prisional entre o século XVII, em data que não pudemos precisar, e 1932. Do alto da torre dispõe-se de uma vista privilegiada sobre a cidade, sendo possível também alcançar o rio. Recomendo vivamente a subida ao topo do edifício, pois quem o fizer não se arrependerá.

12 Throttleman&Others
Em passeio pela Rua Direita, a via comercial e pedonal de excelência da cidade, fomos espreitando a oferta exposta nas montras, e acabámos por entrar na Throttleman&Others, uma loja de vestuário multimarca que possui uma identidade ajustada à da marca Throttleman, da qual detém a representação para Barcelos, entre outras marcas. No meio daquela oferta tão completa, descobri um conjunto para recém-nascido da Dr. Kid que me deixou encantada. O Alejandro também parece ter ficado feliz, pois encontrou mais uma oportunidade para gastar dinheiro no comércio barcelense como se não houvesse mais nada para fazer neste mundo.

13 Estribo
Um pouco mais abaixo, mas do lado contrário da Rua Direita, entrámos na Estribo, outra loja irresistível de vestuário, calçado, malas e acessórios. O Alejandro lembrou-me, com um sorriso maroto nos lábios, que nos faltava comprar calçado para o nosso bebé, mas avisou-me que já tínhamos gasto muito dinheiro e essa seria a nossa derradeira compra. Comprámos umas botinhas em pele da marga Ugg, de cor azul porque já sabíamos que o nosso bebé seria um menino. Podemos dizer que fechámos as compras desse dia com chave de ouro.

14 Cruzeiro do Galo
Ao fundo da Rua Direita descemos à esquerda pela Rua Infante D. Henrique, depois virámos outra vez à esquerda para contornar o edifício da Câmara Municipal, passámos pela Igreja Matriz e fomos visitar o Paço dos Condes de Barcelos, atual Museu Arqueológico, uma construção da primeira metade do século XV. No interior do edifício encontrámos o Cruzeiro do Galo, alusivo aos milagres de S. Tiago e do enforcado. A lenda que ocorrera no burgo resume-se assim: os habitantes andavam alarmados com um crime e por não ter sido ainda descoberto o criminoso. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou nele, e por isso foi condenado à forca. Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara, o que lhe foi concedido. Enquanto o magistrado se banqueteava com alguns amigos, o galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontando para um galo assado que estava sobre a mesa, exclamou: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”. Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo. Todavia, quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. O juiz, sobressaltado, correu à forca e viu o pobre homem de corda ao pescoço, ainda vivo, porque o nó lasso impedia o seu estrangulamento. O peregrino foi imediatamente solto e mandado em paz, mas passados anos voltou a Barcelos para fazer erguer o monumento em louvor a S. Tiago e à Virgem.

